Fusões e aquisições (M&A) são movimentos estratégicos que podem alavancar o crescimento de empresas, abrir portas para novos mercados e ampliar vantagens competitivas. No entanto, também envolvem uma série de riscos — muitos deles não aparentes à primeira vista. É nesse cenário que a due diligence jurídica se torna fundamental. Ao identificar riscos ocultos e avaliar obrigações legais, ela funciona como um escudo preventivo, protegendo os envolvidos contra prejuízos financeiros e problemas jurídicos futuros.
Eventual negligência na condução de uma due diligence pode transformar uma oportunidade promissora em uma fonte de litígios, multas e perda patrimonial. Neste artigo, exploramos os riscos ocultos mais comuns em operações de M&A e como a due diligence jurídica atua para evitá-los.
O que são riscos ocultos em M&A?
Riscos ocultos são aqueles que não são imediatamente evidentes prima facie. Diferente dos passivos visíveis, como dívidas em aberto ou ações trabalhistas já em curso, os riscos ocultos podem estar disfarçados em cláusulas contratuais, omissões contábeis, informalidades administrativas ou falhas de compliance.
Alguns exemplos incluem:
- Contratos com cláusulas de rescisão abusivas, antecipação de obrigações, ausência de cláusula de saída;
- Dependência de um único cliente;
- Obrigações fiscais não provisionadas corretamente;
- Passivos ambientais desconhecidos;
- Propriedade intelectual sem registro ou com disputa de titularidade;
A descoberta desses elementos após a assinatura do contrato pode gerar grandes prejuízos, perda de valor de mercado e até anulação da transação.
O que é Due Diligence Jurídica?
A due diligence jurídica é um processo sistemático de auditoria que visa examinar todos os aspectos legais de uma empresa-alvo antes da conclusão de uma operação de M&A. Ela abrange a análise de contratos, questões societárias, trabalhistas, tributárias, ambientais, regulatórias, entre outras. Seu objetivo é identificar riscos, obrigações ocultas e inconsistências que possam impactar negativamente a operação.
Portanto, é uma ação preventiva que visa mitigar os riscos do comprador (no caso de aquisição).
Esse processo é conduzido por uma equipe jurídica especializada, que realiza a triagem, análise de documentos e interpretação de cláusulas, entrevistas com gestores, levantamento de litígios em andamento e avaliação da conformidade com leis e regulamentações aplicáveis ao setor de atuação da empresa.
Como a Due Diligence Jurídica Ajuda a Prevenir Problemas?
1. Mapeamento completo de passivos
Uma das principais funções da due diligence jurídica é mapear todos os passivos da empresa-alvo. Isso inclui dívidas, processos judiciais e administrativos, inadimplência tributária, além de potenciais litígios que podem surgir de obrigações contratuais não evidenciadas. Essa análise permite que os compradores incluam cláusulas específicas no contrato de aquisição, como retenções de pagamento, ajuste de preço de aquisição, ajustes e metas de earn-out ou garantias de indenização em caso de prejuízo futuro.
2. Revisão de contratos estratégicos
Contratos com fornecedores, clientes, parceiros comerciais, prestadores de serviços e colaboradores são cuidadosamente analisados para verificar cláusulas de exclusividade, penalidades, prazos, condições de renovação ou cancelamento e antecipação de obrigações contratuais. Também são avaliadas a natureza das obrigações que, eventualmente, possam comprometer a continuidade operacional do negócio.
Com essa revisão, é possível renegociar termos antes da conclusão do negócio ou mesmo excluir contratos prejudiciais do acordo final.
3. Conformidade trabalhista e previdenciária
O descumprimento da legislação trabalhista pode gerar autuações, ações judiciais e impactos financeiros severos. A due diligence verifica se os contratos de trabalho estão adequados, se há ações em andamento, se a empresa cumpre obrigações previdenciárias e se há práticas que possam ser consideradas irregulares.
Esse levantamento também ajuda a entender a cultura organizacional e a estrutura de governança de pessoas da empresa adquirida.
4. Validação da situação societária
A due diligence jurídica também garante que a empresa-alvo esteja regularizada perante os órgãos competentes, que o quadro societário esteja atualizado e que não haja pendências com acionistas ou cotistas. Isso evita disputas societárias futuras e garante que os ativos transferidos pertencem, de fato, à empresa adquirida.
5. Avaliação de propriedade intelectual e compliance
A proteção da marca, patentes, softwares e direitos autorais é essencial em negócios com ativos intangíveis relevantes. A due diligence jurídica avalia se esses ativos estão devidamente protegidos, com seus registrados ativos, e se, eventualmente, existem disputas judiciais acerca da titularidade da propriedade intelectual.
Além disso, verifica-se se a empresa cumpre com as leis de proteção de dados, normas ambientais, regras setoriais e políticas de integridade corporativa.
As consequências da ausência de uma due diligence jurídica eficaz
A falta de uma due diligence bem conduzida pode resultar em:
- Aquisições superfaturadas de empresas com valor de mercado inflado artificialmente e;
- Litígios inesperados e onerosos identificados após a aquisição;
- Descoberta de dívidas ocultas e contingências fiscais;
- Aquisição de empresa com números distorcidos e contabilidade criativa;
- Dificuldade em integrar operações por causa de contratos restritivos;
- Perda de reputação e credibilidade no mercado.
Em casos extremos, a operação pode ser judicialmente questionada ou anulada, prejudicando todos os envolvidos.
A due diligence jurídica é mais do que uma etapa técnica de uma operação de M&A. Ela é uma ferramenta estratégica de proteção ao investimento e garantia de segurança jurídica para todos os envolvidos. Ao revelar riscos ocultos, a due diligence jurídica transforma uma aquisição incerta em uma operação planejada, transparente e sustentável, além de permitir um preço mais justo e adequado na negociação.
Negócios bem-sucedidos em M&A não acontecem por acaso — eles são construídos com base em análise criteriosa, informações sólidas e decisões juridicamente embasadas. Nesse sentido, contar com uma assessoria jurídica especializada é indispensável para evitar surpresas desagradáveis e assegurar o sucesso da operação.