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Fusões e aquisições internacionais: os desafios legais e a importância da assessoria jurídica

As operações de fusões e aquisições (M&A) internacionais têm ganhado cada vez mais relevância no cenário corporativo global. Empresas buscam expansão de mercado, diversificação de portfólio, acesso a novas tecnologias ou otimização de custos ao adquirir, incorporar ou se associar a companhias de outros países. No entanto, a complexidade jurídica dessas transações vai muito além daquelas realizadas em âmbito nacional. A diversidade de legislações, culturas, sistemas tributários e normas regulatórias impõe uma série de desafios que só podem ser enfrentados com o suporte de uma assessoria jurídica especializada.

Este artigo destaca os principais obstáculos legais envolvidos em M&A internacionais e como uma consultoria jurídica eficiente é fundamental para garantir a segurança, a conformidade e o sucesso da operação.

1. Diversidade de legislações e sistemas jurídicos

Cada país possui seu próprio ordenamento jurídico, o que significa que regras societárias, trabalhistas, ambientais, concorrenciais, tributárias e de proteção de dados podem variar significativamente entre os territórios envolvidos na transação. Uma operação considerada simples no Brasil pode ser extremamente complexa no país-alvo — e vice-versa.

Por exemplo, para determinadas operações, a legislação antitruste dos Estados Unidos impõe notificações e análises detalhadas por órgãos como o Federal Trade Commission (FTC), enquanto na União Europeia é necessário atender às exigências da Comissão Europeia. Já países asiáticos como a China exigem autorizações adicionais e possuem regras específicas para setores estratégicos.

A assessoria jurídica especializada em M&A internacionais é responsável por identificar essas diferenças e construir uma estratégia jurídica compatível com ambas as jurisdições, minimizando riscos e garantindo o cumprimento de todas as normas aplicáveis.

2. Due Diligence multijurisdicional

O processo de due diligence em M&A internacionais é ainda mais sensível e complexo. Envolve a análise detalhada de aspectos legais, financeiros, trabalhistas e regulatórios da empresa-alvo em outro país, considerando, inclusive, fatores culturais e políticos que possam afetar o negócio.

Uma due diligence eficiente deve ir além da documentação formal. É preciso investigar passivos ocultos, obrigações ambientais, processos judiciais em curso, contratos com cláusulas restritivas, estrutura societária, licenças, conformidade com normas anticorrupção (como o FCPA americano ou a Lei Anticorrupção brasileira), além de questões de propriedade intelectual e compliance tributário.

Nestes casos, a participação de escritórios locais e o trabalho coordenado entre advogados de diferentes jurisdições são essenciais para garantir que a due diligence alcance todos os pontos críticos da operação.

3. Barreiras regulatórias e governamentais

Alguns países impõem barreiras legais ou políticas à entrada de capital estrangeiro em determinados setores, como defesa, telecomunicações, mineração, energia ou saúde. Essas restrições podem inviabilizar a operação ou exigir a adoção de estruturas jurídicas alternativas, como joint ventures, sociedades de propósito específico ou acordos de parceria.

Além disso, mudanças políticas e econômicas — como sanções internacionais, instabilidade cambial ou alterações legislativas — também afetam diretamente a viabilidade e o risco da transação.

Uma assessoria jurídica especializada pode ajudar a mapear esses riscos regulatórios e sugerir caminhos viáveis para mitigação de tais riscos.

4. Questões tributárias e estruturação da operação

Outro ponto crítico em M&A internacionais é a estrutura tributária da operação. Países possuem diferentes sistemas de tributação sobre lucros, ganhos de capital, remessas internacionais, dividendos e royalties. Uma estrutura mal planejada pode resultar em dupla tributação ou em perda de eficiência fiscal.

Importante pontuar que, atualmente, existem acordos bilaterais para evitar dupla tributação celebrados pelo Brasil e alguns países.

A assessoria jurídica especializada em M&A, em conjunto com especialistas tributários, atua na escolha do modelo societário mais vantajoso (fusão direta, aquisição de ações, aquisição de ativos, etc.), considerando acordos e tratados internacionais para evitar a dupla tributação e identificando benefícios fiscais disponíveis em determinadas jurisdições.

5. Integração pós-fusão e governança corporativa

Após a conclusão da operação, surge um novo desafio: a integração jurídica, operacional e cultural das empresas. Isso envolve a harmonização de contratos, políticas internas, estrutura de compliance, normas trabalhistas e práticas de governança corporativa.

Em M&A internacionais, a diferença de culturas organizacionais pode impactar diretamente o sucesso da integração. A assessoria jurídica, ao lado das lideranças corporativas, tem o papel de revisar e alinhar os documentos societários, adaptar a estrutura de governança e garantir que as práticas adotadas estejam em conformidade com ambas as jurisdições.

6. Cláusulas contratuais específicas e solução de conflitos

Contratos de M&A internacionais devem prever cláusulas adaptadas ao contexto transnacional. Isso inclui definição clara da lei aplicável, foro competente ou escolha de arbitragem internacional (como o Tribunal Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional – ICC ou o Tribunal de Arbitragem Internacional de Londres – LCIA), cláusulas de confidencialidade, não concorrência, garantias e indenizações, além de condições precedentes e posteriores à conclusão do negócio.

A assessoria jurídica é essencial na negociação e redação desses contratos, assegurando que as cláusulas reflitam os interesses das partes e estejam preparadas para enfrentar disputas em cenários internacionais.

As fusões e aquisições internacionais são oportunidades estratégicas valiosas, mas exigem alto grau de preparação e cuidado jurídico. A diversidade legislativa, os riscos regulatórios e culturais, a complexidade tributária e os desafios de integração tornam indispensável a presença de uma assessoria jurídica especializada, com experiência em transações globais e capacidade de atuação coordenada entre diferentes países.

Ao contar com advogados experientes em M&A internacionais, as empresas aumentam significativamente suas chances de sucesso, reduzem os riscos jurídicos para  que a operação seja não apenas viável, mas também lucrativa e sustentável no longo prazo. Em um ambiente de negócios cada vez mais globalizado, a segurança jurídica é a base de qualquer expansão internacional bem-sucedida.