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O que significa Transição Energética?

A transição energética refere-se a um processo de mudança matriz energética global, predominantemente baseado em combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural, para um sistema mais sustentável e de fontes com baixas taxas de emissão de carbono, utilizando precipuamente energias consideradas renováveis, tais como a solar, a eólica, a hidrelétrica e a biomassa. Esse processo é impulsionado por uma série de fatores, incluindo a necessidade de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, melhorar a segurança energética, reduzir a poluição do ar, além de promover um modelo econômico mais sustentável.

Historicamente, as transições energéticas têm ocorrido ao longo de várias décadas. Por exemplo, a mudança do uso predominante da força motriz animal e de moinhos de vento ou água para o carvão durante a Revolução Industrial, que impulsionava máquinas a vapor. Posteriormente, a humanidade testemunhou a transição do carvão para o petróleo e o gás natural, com crescimento exponencial ao longo do século XX. No entanto, a transição energética que estamos presenciando é distinta devido à urgência imposta pela crise climática. O Acordo de Paris, assinado por 196 países em 2015, estabeleceu metas ambiciosas para limitar o aquecimento global  em 2°C, se comparados aos níveis pré-industriais, com esforços para tentar limitar o aumento em 1,5°C. Para alcançar essas metas, é imperativo reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa; o que exige da humanidade uma transformação profunda na forma como produzimos e consumimos energia.

A transição energética atual envolverá diversos atores em diferentes dimensões, que se interconectam de alguma forma. Primeiramente, há o desafio tecnológico, que inclui o desenvolvimento e a implementação de novas tecnologias voltadas à produção, ao armazenamento e à distribuição de energias renováveis. A energia solar fotovoltaica e a energia eólica são as tecnologias que vem tendo o crescimento mais rápido, devido à queda significativa nos custos e aos avanços tecnológicos que melhoram a eficiência. Além disso, há um foco crescente em tecnologias emergentes, como a produção de hidrogênio verde, que pode ser utilizado como um vetor energético versátil e com baixíssima emissão de carbono. Como comentado em nossos artigos anteriores, o hidrogênio verde é produzido por meio da eletrólise da água, utilizando eletricidade gerada por fontes renováveis, com baixa emissão de carbono, apresentando grande potencial para ser utilizado em setores difíceis de descarbonizar, como a indústria pesada e o transporte de longa distância.

A dimensão econômica é igualmente crucial. A transição energética requer investimentos substanciais em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, além da urgente capacitação de mão de obra. Embora venha a consumir recursos financeiros, tais investimentos também oferecerão oportunidades significativas para a criação de empregos e o desenvolvimento econômico de algumas regiões (como o Nordeste brasileiro, por exemplo). A indústria de energia renovável já emprega milhões de pessoas em todo o mundo, sendo certo que a sua expansão, notadamente a produção de hidrogênio verde, poderá contribuir para um crescimento econômico sustentável.

A dimensão política e regulatória é outro componente vital da transição energética. Governos ao redor do mundo estão implementando políticas públicas e novos regulamentos para incentivar a adoção de energias renováveis, assim como reduzir as emissões de carbono. Isso inclui subsídios para tecnologias limpas, a criação de impostos sobre o carbono, novos padrões de eficiência energética e metas obrigatórias de uso de energia renovável. A cooperação internacional também é essencial, pois a transição energética é um desafio global que requer uma resposta coordenada.

A dimensão social não pode ser negligenciada. A transição energética deverá garantir que os benefícios sejam amplamente distribuídos e que as comunidades mais vulneráveis sejam incorporadas nas políticas públicas. Isso inclui a criação de programas de requalificação para trabalhadores em indústrias de combustíveis fósseis, apoio a comunidades afetadas pela transição e a promoção de acesso universal à energia limpa.

Atransição energética também tem uma dimensão ambiental importante. O uso de energias renováveis poderá reduzir significativamente a poluição do ar, melhorar a saúde pública e preservar os ecossistemas naturais. O hidrogênio verde, por exemplo, pode desempenhar um papel importante na descarbonização de indústrias e setores onde a eletrificação direta não é viável, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. No entanto, a expansão das energias renováveis deve ser feita de forma sustentável, minimizando impactos negativos como o uso excessivo de terras agriculturáveis e de recursos hídricos.

Em resumo, a transição energética é um processo complexo e multifacetado que envolve a transformação do sistema energético global para um modelo mais sustentável e de baixo carbono. As medidas em curso terão que endereçar as mudanças climáticas, melhorar a segurança energética, promover o desenvolvimento econômico sustentável e proteger o meio ambiente. Tecnologias emergentes, como o hidrogênio verde, oferecem novas oportunidades para acelerar essa transição e garantir um futuro mais limpo, seguro e próspero para todos.